sexta-feira, 14 de junho de 2013

UFRGS desenvolve estudo inédito com nanotecnologia e células-tronco

Pesquisadores trabalham com regeneração e produção de tecidos.
Resultados animadores são esperança contra câncer e lesões na medula.




Encontrar a fórmula para reconstruir órgãos do corpo humano. É com este objetivo que um grupo de pesquisadores gaúchos está trabalhando em uma técnica inovadora a partir do uso de células-tronco. O estudo já apresenta resultados surpreendentes e, pode, no futuro, ser uma esperança para quem sofre com doenças como câncer ou com lesões na medula.
Inédita, a pesquisa é desenvolvida no Laboratório de Hematologia e Células-Tronco da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Basicamente, o estudo une conhecimentos de nanotecnologia para desenvolver um novo material que servirá de suporte para a produção de tecidos e para o crescimento de células-tronco em tecidos lesionados.
“O que foi o Frankestein? Nada mais do que um transplante múltiplo de órgãos. O que nós fazemos hoje? Hoje é bastante frequente nós fazermos transplante múltiplo de órgãos, só que nós precisamos de um doador desses órgãos. O que nós esperamos é que no futuro, quem sabe, nós possamos então construir esses órgãos em laboratório ou pelo menos parte desses órgãos”, explica a professora Patrícia Pranke, coordenadora do laboratório. 
Os pesquisadores já reconstruíram um pedaço da laringe de cobaias, usando células-tronco e aplicando conhecimentos da chamada Engenharia de Tecidos, ou seja, a construção de um tecido ou órgão vivo. A parte da laringe das cobaias que foi substituída chama-se cartilagem tireoide, que nos humanos pode ser destruída pelo câncer, por exemplo.
“A cartilagem não cresce. Então, por ser um tecido de difícil regeneração, nós estamos mostrando que essa técnica é viável, bem viável, para em um futuro próximo ser utilizada em humanos”, afirma o professor Geraldo Pereira Jotz, chefe do Departamento de Ciências Morfológicas.
O primeiro passo foi cultivar células-tronco em uma espécie de membrana bem fina, usando técnicas da nanotecnologia, uma ciência revolucionária, que cria objetos a partir de coisas muito pequenas. A unidade de medida é o nanômetro, que corresponde a um metro dividido por um bilhão.
Usando a nanotecnologia, uma máquina tece a membrana. O fio é tão fino que é imperceptível a olhos nus. Só mesmo no microscópio para enxergar o emaranhado de fibras, onde as células-tronco vão se fixar e crescer.
“É como se nós imaginássemos uma teia de aranha e as células-tronco vão entrando nessa malha de forma tridimensional. Assim nós temos certeza que em todos os níveis de tecido nós vamos ter células, não apenas na parte superior como na parte inferior”, explica Patrícia. 
Para explicar melhor a vantagem dessa técnica, a pesquisador ilustra com o exemplo de uma cozinha. A cozinheira seria a cientista e as células-tronco, a massa, que se transforma no que a cozinheira deseja conforme os ingredientes usados.
“Você vai fazer um bolo de chocolate, por exemplo, ou você vai fazer uma massa de pizza, dependendo dos ingredientes que você usou. A mesma coisa conosco. Dependendo do alimento que nós vamos fornecer a essa célula, ela pode virar um neurônio, pode virar uma célula cardíaca, uma célula hepática”, enumera a pesquisadora.
Agora imagine que a massa de células-tronco tem que ir para o forno. Se ela for simplesmente despejada lá dentro, vai escorrer e se perder. Para virar um bolo de verdade, é preciso usar uma forma. Na pesquisa, esse papel é desempenhado pela membrana feita com nanotecnologia.
A diferença é que, enquanto o bolo é retirado da forma depois de pronto, na Engenharia de Tecidos a membrana é biodegradável, absorvida pelo corpo sem deixar vestígios. Foi o que aconteceu nas cobaias operadas pelo doutor Geraldo Jotz.
“Nós colocamos essa membrana dobrada na parte que ficou aberta na cartilagem, dobramos ela e suturamos esta membrana. As células mais escuras são as células antigas, as mais claras são as jovens, de cartilagem que estão crescendo. Essa é a parte que foi tirada e esta sendo totalmente reconstruída a partir de células-tronco adultas”, conta ele.
“Nós usamos essa técnica para regenerar cartilagem, pra regenerar pele, osso, nervo periférico, lesão de medula espinhal. A ideia é justamente cultivar as células-tronco aqui e nós colocarmos isso em animais de laboratório inicialmente e fazer tipo uma ponte, onde as células-tronco possam fazer a ligação das duas partes perdidas da medula espinhal”, acrescenta Patrícia.
Segundo os pesquisadores, um dos objetivos do estudo é fazer com que pacientes com esse tipo de lesão possam recuperar os movimentos. Mas antes é preciso continuar testando a técnica em animais e ter certeza de que vai trazer benefícios sem efeitos colaterais para os seres humanos. Os resultados ainda são incertos, mas enchem de esperanças a equipe de pesquisadores.

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