segunda-feira, 25 de março de 2013

Pesquisas com células-tronco para tratar o coração avançam no Brasil.


Ao todo, 600 voluntários já participaram de um teste clínico considerado um dos maiores do mundo. A pesquisa envolve médicos e cientistas de 40 instituições do país.




O assunto de hoje é o tratamento de pacientes com problemas cardíacos.
Quem vê o aposentado Valter Lemos Filho bem disposto, não imagina como a saúde dele estava frágil. “Foram quatro enfartes”, conta ele.
Em 2010, ele apostou em um tratamento com células-tronco. Entre tantos avanços da medicina, o início do século XX foi marcado pela primeira vacinação em massa no Brasil. Depois, surgiram os antibióticos, com o uso em larga escala de remédios que salvaram milhões de vidas, e os transplantes viraram rotina nos anos 1980. No século XXI, a ciência avança nas pesquisas com células-tronco, a promessa da medicina regenerativa de usar um remédio que está dentro de nós.
O coração é um dos principais campos de estudo no Brasil. Uma novidade para o despachante aduaneiro Rosno Julião. “Estou otimista. Se não fizer bem, mal não vai fazer”, reflete ele.
A maca trazendo seu Julião surge no corredor. Ele participa de um teste clínico para casos de isquemia crônica, quando o coração não consegue receber o oxigênio necessário para funcionar bem. Há também testes para três outros tipos de insuficiência cardíaca. No caso do seu Julião, células-tronco adultas foram retiradas da medula óssea dele antes de uma cirurgia de revascularização para melhorar a circulação do sangue. Em seguida, as células-tronco foram levadas para um laboratório no Instituto de Cardiologia do Rio.
O processo do material retirado da medula óssea do paciente é sigiloso, e só o profissional que vai fazer esse trabalho é que na verdade sabe se o paciente vai receber implante de células-tronco mesmo ou um líquido, que é um placebo. A escolha é feita por sorteio, e o paciente não sabe o que vai receber.
"É o melhor padrão. Padrão ouro de um estudo que vise testar a eficácia de uma nova terapia", diz Antonio Carlos Campos de Carvalho, coordenador da pesquisa do Instituto Nacional de Cardiologia.
As células-tronco adultas foram, então, injetadas no coração do paciente. A expectativa é que elas possam restaurar a função cardíaca.
“Aquela área do coração que não tem como revascularizar, a gente procura injetar células-tronco na esperança que aquelas células-tronco se diferenciem em células do coração”, explica o cirurgião cardiovascular José Oscar Brito.
Ao todo, 600 voluntários já participaram desse teste clínico, considerado um dos maiores do mundo. A pesquisa envolve médicos e cientistas de 40 instituições do país.
“Seria a terapia ideal para um sistema público de saúde, porque você consegue processar essas células a baixo custo”, acrescenta Antonio Carlos Campos de Carvalho.
Imagens feitas durante uma pesquisa do Instituto do Coração, em São Paulo, mostram o caso de um paciente que melhorou: seis meses depois da cirurgia de revascularização e do implante com células-tronco, o coração ficou revigorado e batendo mais forte.
Seu Valter, como vimos no início da reportagem, voltou a ser ativo. “Meu coração está bom. Me abaixo, levanto, carrego alguma coisa, não altera nada”, comemora.
Os médicos ainda não prometem cura, mas o exemplo desse homem mostrou que a terapia tinha futuro: Nelson Águia estava desenganado quando recebeu, em 2001, a primeira aplicação no mundo de  células-tronco no coração. A lesão foi reduzida em quase 100%, e assim o paciente chegou aos 80 anos.
“Eu fiz com a maior satisfação, e com isso já estou aí há cerca de 12 anos”, contou ele em sua última entrevista. Ele morreu em setembro e deixou de herança um caminho que pode levar outros pacientes tão longe ou mais até do que ele foi.

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