Ao todo, 600 voluntários
já participaram de um teste clínico considerado um dos maiores do mundo. A
pesquisa envolve médicos e cientistas de 40 instituições do país.
O
assunto de hoje é o tratamento de pacientes com problemas cardíacos.
Quem
vê o aposentado Valter Lemos Filho bem disposto, não imagina como a saúde dele
estava frágil. “Foram quatro enfartes”, conta ele.
Em
2010, ele apostou em um tratamento com células-tronco. Entre tantos avanços da
medicina, o início do século XX foi marcado pela primeira vacinação em massa no
Brasil. Depois, surgiram os antibióticos, com o uso em larga escala de remédios
que salvaram milhões de vidas, e os transplantes viraram rotina nos anos 1980.
No século XXI, a ciência avança nas pesquisas com células-tronco, a promessa da
medicina regenerativa de usar um remédio que está dentro de nós.
O
coração é um dos principais campos de estudo no Brasil. Uma novidade para o
despachante aduaneiro Rosno Julião. “Estou otimista. Se não fizer bem, mal não
vai fazer”, reflete ele.
A
maca trazendo seu Julião surge no corredor. Ele participa de um teste clínico
para casos de isquemia crônica, quando o coração não consegue receber o
oxigênio necessário para funcionar bem. Há também testes para três outros tipos
de insuficiência cardíaca. No caso do seu Julião, células-tronco adultas foram
retiradas da medula óssea dele antes de uma cirurgia de revascularização para
melhorar a circulação do sangue. Em seguida, as células-tronco foram levadas
para um laboratório no Instituto de Cardiologia do Rio.
O
processo do material retirado da medula óssea do paciente é sigiloso, e só o
profissional que vai fazer esse trabalho é que na verdade sabe se o paciente
vai receber implante de células-tronco mesmo ou um líquido, que é um placebo. A escolha é
feita por sorteio, e o paciente não sabe o que vai receber.
"É
o melhor padrão. Padrão ouro de um estudo que vise testar a eficácia de uma
nova terapia", diz Antonio Carlos Campos de Carvalho, coordenador da
pesquisa do Instituto Nacional de Cardiologia.
As
células-tronco adultas foram, então, injetadas no coração do paciente. A
expectativa é que elas possam restaurar a função cardíaca.
“Aquela
área do coração que não tem como revascularizar, a gente procura injetar
células-tronco na esperança que aquelas células-tronco se diferenciem em
células do coração”, explica o cirurgião cardiovascular José Oscar Brito.
Ao
todo, 600 voluntários já participaram desse teste clínico, considerado um dos
maiores do mundo. A pesquisa envolve médicos e cientistas de 40 instituições do
país.
“Seria
a terapia ideal para um sistema público de saúde, porque você consegue
processar essas células a baixo custo”, acrescenta Antonio Carlos Campos de
Carvalho.
Imagens
feitas durante uma pesquisa do Instituto do Coração, em São Paulo, mostram o
caso de um paciente que melhorou: seis meses depois da cirurgia de
revascularização e do implante com células-tronco, o coração ficou revigorado e
batendo mais forte.
Seu
Valter, como vimos no início da reportagem, voltou a ser ativo. “Meu coração
está bom. Me abaixo, levanto, carrego alguma coisa, não altera nada”, comemora.
Os
médicos ainda não prometem cura, mas o exemplo desse homem mostrou que a
terapia tinha futuro: Nelson Águia estava desenganado quando recebeu, em 2001,
a primeira aplicação no mundo de células-tronco no coração. A lesão foi
reduzida em quase 100%, e assim o paciente chegou aos 80 anos.
“Eu
fiz com a maior satisfação, e com isso já estou aí há cerca de 12 anos”, contou
ele em sua última entrevista. Ele morreu em setembro e deixou de herança um
caminho que pode levar outros pacientes tão longe ou mais até do que ele foi.
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